segunda-feira, 27 de maio de 2013

ENTREVISTA COM A NEUROCIENTISTA SUSAN GREENFIELD



A neurocientista inglesa Susan Greenfield uma das mais renomadas da Inglaterra não cala sua voz diante á empolgação de muita gente com o potencial dos aparelhos de ultima tecnologia, redes sociais e internet.
           Para ela, há razões para acreditar que a vida virtual torna as pessoas menos inteligentes e menos capazes de desenvolver um aprendizado que busca o objetivo gradativamente.
As crianças em especial precisam, sim, ter acesso ás possibilidades oferecidas pela tecnologia, mas de uma forma organizada e orientada para que possa levar a um efetivo aprendizado. O uso excessivo de videogame, laptop ou internet atrapalha o aprendizado da criança.
TRECHOS DA ENTREVISTA
 Veja - Qual é o paralelo entre a doença de Alzheimer e os efeitos sobre o cérebro do uso exagerado de aparelhos conectados à internet?
Susan Greenfield - Fui mal interpretada em uma entrevista e passaram a me atribuir algo que eu não disse. O Alzheimer, à medida que avança, provoca a perda de células cerebrais, conduzindo o paciente a um estado de alienação crescente. Não afirmei que a tecnologia provoca a morte dos neurô­nios. Não há prova científica disso. O que realmente disse e reafirmo é que computadores, tablets, smarrphones, enfim, todos os dispositivos interativos, quando usados excessiva e ininterrup­tamente, deixam a mente em um estado de confusão sobre o aqui e o agora muito semelhante aos efeitos do Alzhei­mer. A pessoas nesse estado perdem momentaneamente a noção clara do que seja passado, presente ou futuro. Alguém imerso nesse universo virtual está sempre de prontidão para responder rapidamente a um e-mail ou uma men­sagem de bate-papo. Essa disponibilida­de instantânea para os apelos digitais interativos, dominada pelos sentidos e não pela cognição, deixa a mente em um estado semelhante ao provocado pelo Alzheimer ou mesmo pelo autismo. Ainda não existem evidências de que o cérebro sadio submetido de maneira intermitente a esse estímulos sofrerá transformações fisiológicas permanen­tes. No entanto, essa é uma hipótese a considerar seriamente a longo prazo.
Veja - A noção predominante entre os estudio­sos, porém, é que os estímulos digitais estão aumentando a eficiência do cére­bro humano. Essa noção é equivocada?
Susan Greenfield - Obviamente, qualquer atividade con­tribui para o desenvolvimento cerebral. Estudos feitos nas últimas décadas comprovaram a capacidade de o cére­bro reorganizar-se e reinventar-se a to­do o momento por meio de estímulos externos. É a neuroplasticidade. Os vi­deogames desenvolvem a coordenação motora e a memória. Isso está compro­vado. Nos adultos, sobretudo nos ido­sos, a interatividade mostrou-se uma excelente ferramenta para estimular a neogênese, a formação de novas cé­lulas cerebrais, e até promover certo bem-estar mental. Há relatos científicos de diminuição dos sintomas da de­pressão em virtude de relacionamentos que o paciente retomou ou criou nas redes sociais. Minha mãe é Viúva, tem 85 anos e mora sozinha. Meu irmão e eu gostaríamos muito que ela tivesse uma conta no Face book. Mas, infelizmente, ela se recusa. Meu ponto, en­tão, não é a condenação da era da in­formação. O que eu reafirmo é que a exemplo de um carro, que nos serve tanto, mas com o qual podemos atrope­lar e matar alguém, obter o benefícios e evitar os males das nova tecnologias depende apenas do usuário.
Veja - A comunidade científica levou a sério seu alerta sobre o perigo de os videogames, na infância, estarem produzindo adultos "sem ética e atrofiados emocionalmente"?
Susan Greenfield - Essa é uma constatação irrefutável. Pense na fábula da princesa presa na torre. Existe uma enorme diferença entre a experiên­cia de ler sobre Rapunzel em um livro e a de participar de um game em que o objetivo é resgatá-la. O livro apresenta à criança a narração plena da história da princesa. A vida dela faz parte de um contexto. Já no game a princesa é ape­nas um objetivo, não importa nem como ela chegou a ser aprisionada na torre, não se constrói em nenhum momento um vinculo emocional com a persona­gem, tampouco se discutem as questões éticas de aprisionar alguém ou as virtu­des de caráter ou de coração do ato de salvá-la. A única coisa que importa é ganhar o jogo. Parece-me evidente que são duas vias bem distintas.
Veja - O convívio nas redes sociais aceita uma latitude maior na conduta ética das pes­soas?
Susan Greenfield - Sem dúvida. O mundo virtual, as pessoas podem se comportar de um mo­do como jamais fariam no mundo real. Elas perdem seus constrangimentos naturais, o que normalmente barra os maus comportamentos, a rede, muita gente se expõe como jamais faria nem mesmo no ambiente familiar ou na frente dos amigos mais íntimos. Essa liberalidade começou com os e-mails, mas atingiu o ápice com o Face book. Os limites do certo e do errado estão cada vez mais difíceis de ser definidos. O livro O Senhor das Moscas, obra-pri­ma de William Golding, conta a história de um naufrágio de estudantes. Presos em uma ilha e submetidos a enormes pri­vações, eles perdem o verniz civilizatório e se tomam selvagens. Por alguma razão, estar nas redes sociais pode produzir o mesmo efeito de desconsideração com os outros que acometeu os estudantes do livro de Golding presos na ilha.
Veja - Antes eram as revistas em quadrinhos, depois a televisão, agora a internet e os games. Será que cada era tem seu falso inimigo do cérebro das crianças?
Susan Greenfield - Existe uma diferença crucial. As novas tecnologias são muito mais invasivas e têm um impacto infinitamente maior até mesmo que o da televisão. As pessoas agora estão sendo levadas a ter uma percepção da vida como uma sucessão de pequenas tarefas desconectada entre si, exatamente como no game da Rapunzel. O ser humano é produto de histórias, da preservação de memórias, enfim, da narrativa, não há mais narrativa. Tudo não passa de ação e reação.
Veja - Mas a senhora não acha que tem sido gi­gantesca a contribuição das tecnologias interativas para a educação?
Susan Greenfield - Uma pes­quisa divulgada no ano passado, na In­glaterra, derruba essa tese. Três quartos dos professores ingleses reclamam da crescente dificuldade de concentração dos alunos. Quase todos os pais entre­vistados afirmaram que os filhos gas­tam o triplo do tempo na frente de uma tela em comparação com o que dedi­cam a um livro, não concordo com os especialistas que sugerem distribuir tablets aos alunos. Isso não resolve. A única maneira de prender a atenção das crianças nos dias de hoje é ter pro­fessores inspiradores. A tecnologia é fundamental e excitante, mas, sozinha, não identifica nem desenvolve talentos.
 

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