quinta-feira, 30 de maio de 2013

Entrevista - ANA MARIA MACHADO


Uma das maiores autoras infanto-juvenis do Brasil fala da importância da escola na formação das futuras gerações de leitores.




Aos 59 anos, já publicou 107 títulos 97 dos quais para crianças e é reconhecida internacionalmente. Sua obra foi publicada em dezenove países e, no ano passado, ela conquistou o Prêmio Hans Christian Andersen, o Nobel da literatura infanto-juvenil.

A senhora criou um curso na Casa da Leitura, no Rio de Janeiro, para ensinar professores a trabalhar com literatura. Na sua opinião, quais são as principais falhas de formação que eles têm?
Ana Maria Machado:
Na faculdade, eles aprendem muito sobre pedagogia e psicologia, mas pouco sobre arte. Têm pouco contato com as obras. Acabam entrando no Magistério sem instrumentos para distinguir arte de não arte, textos bons de ruins. O objetivo do curso é suprir essa falha, tornando-os capazes de reconhecer, sozinhos e com segurança, a boa literatura. E isso só é possível com interesse e muita leitura.

Nossos docentes leem pouco?
Ana Maria: Muito pouco, porque a formação que recebem não dá ênfase a isso. É uma situação completamente contraditória. Ninguém contrata um instrutor de natação que não sabe nadar. No entanto, as salas de aula brasileiras estão cheias de gente que, apesar de não ler, tenta ensinar. Como esperar que os alunos se interessassem?


Isso quer dizer que a literatura não está sendo bem trabalhada nas escolas. 
Ana Maria: Não só a literatura. A arte em geral, toda a cultura criadora e questionadora. Nas minhas viagens pelo interior do Brasil tenho conhecido algumas experiências individuais surpreendentes. Mas elas ainda são mais exceção do que regra dentro do sistema educacional. Esbarram na burocracia, no currículo, no horário que não reserva um espaço para que as crianças leiam. 

Como usar o livro na sala de aula?

Ana Maria: Com muita paixão. Quando o trabalho é feito com gosto, fica fácil descobrir a melhor forma de envolver a turma. É possível analisar o contexto da história, fazer um júri simulado, uma dramatização, um debate... Tudo vai depender da realidade de cada turma. Na Inglaterra existe um programa muito interessante. Num determinado horário, toda a comunidade escolar do porteiro à diretora pára o que está fazendo para ler. Cada um escolhe o assunto que quiser ficção ou não ficção. Quando acaba esse tempo, tudo volta ao normal.

 
E não há nenhuma atividade depois?
Ana Maria: Não precisa. Ninguém lê para fazer prova. O resultado é que, espontaneamente, surgem inúmeras discussões sobre as histórias. Os níveis de leitura sobem e as pessoas passam a se expressar melhor.

 
Qual o papel da literatura na formação da criança?
Ana Maria: Ela permite sonhar, enfrentar medos, vencer angústias, desenvolver a imaginação, viver outras vidas, conhecer outras civilizações. Além disso, nos dá acesso a uma parte da herança cultural da humanidade afinal, temos direito a conhecer Dom Quixote, algumas histórias da Bíblia, o Cavalo de Tróia...

Autor: Priscila Ramalho

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